sexta-feira, 25 de março de 2011

Impressões sobre o Chile

Uma parada no dia a dia do chile.

Esse texto eu criei enquanto estava lá. Foram as impressões que tive sobre dois assuntos essenciais do chile.


O TERREMOTO E A DITADURA


Esses são os dois assuntos que um chileno não gosta de conversar: terremoto e ditadura. Tanto um como para o outro, muitos minimizam seus reais efeitos e as desgraças a qual foram acometidos. É engraçado pensar que um é uma força da natureza e o outro é a força do homem. É como se não tivesse perdão. Mas só que a população criou o seu perdão. E a melhor forma de conseguí-lo é minimizar tudo de ruim e mostrar como poderia ter sido pior.

No caso do terremoto, ilhas e cidades costeiras foram arrasadas pelo mar que havia se revoltado com o tremor enquanto grandes cidades (até mesmo Santiago) viam seus prédios trincarem e cairem. Graças à rápida manutenção do governo, em três meses o dia a dia de um chileno já havia voltado ao normal... mais ou menos. Os passeios até a ilha Juan Fernandez (que fica a caminho da Ilha da Pascoa - célebre por seus Moais) estão suspenso por no mínimo um ano - até o centro da ilha foi devastado, levando toda a infraestrutura que tinham para o fundo do oceano. Muitos dos museus e ascensores de Viña del Mar e Valparaíso se encontram em "manutenção" (que - oficialmente - diz ser para a melhoria do serviço). Há até mesmo antigas (e belas) mansões rodeadas por aquela faixa amarela com o escrito: PELIGRO. Em Santiago, então? Pouco se fala. Agradecem pelo fato de que o terremoto acontece em média "só" a cada vinte anos. Agradecem também pelo fato de o terremoto não ser tão forte assim. Afinal, é só olhar para o Haiti para ver o que um terremoto pode fazer (nisso eles realmente têm razão). Mas ainda assim, é possível ver vários prédios trincados pela força dos tremores (como a Biblioteca, Bellas Artes e a Igreja Metropolitana), outros com a fachada destruida (como o Museu de Arte Contemporânea) e mais outros fechados por estarem em risco (como a Igreja de San Francisco - uma das mais antigas construções da cidade). Talvez seja a melhor forma de lutar contra uma força natural incontrolável: manter o bom humor e seguir em frente. Muitos deviam aprender com isso.

Agora, no caso da ditadura a coisa complica. Eles a encaram como algo ruim que aconteceu, mas que deu até uma boa guinada no país. Nós, brasileiros, encaramos a ditadura como o que aconteceu de pior no país e sabemos que a ditadura do Chilena chegou a ser mais dura e penosa. Então de onde vêm a grande diferença? Vem do início dela. No governo comunista de Salvador Allende, a classe média e alta já estavam passando fome quando o presidente passou a racionar comida e dar o mesmo para todos. O problema é que não havia produção de alimento para todos, então a classes mais altas, que já estavam acostumadas com suas mordomias entraram em pânico (logicamente). A ditadura seria o desenrolar disso. Seria a salvação do país (uma salvação um tanto dura e cruel, diga-se de passagem). Há também outra diferença. No Brasil, a ditadura foi ficando mais pesada ao longo dos anos, com o clímax em 1968, com o AI-5 para depois entrar em queda nos anos 80. No Chile não: quase 70% das prisões, mortes e torturas aconteceram nos três primeiros meses! Muita gente sofreu e muitos morreram, mas foi rápido e (quase) anestesiante. É como uma pancada. É menos complicado de curar. Então, há sim um consenso em dizer que a ditadura foi horrivel, mas como dizem os santiaguinos: era só não se meter com a política que tava tudo bem. O negócio é saber se era possível não entrar nesse assunto, algo tão presente na sociedade.

Bellas Artes

Essa estação, cujo nome indica tudo, é onde se encontram os três maiores museus de artes da cidade. E fui em todos. E tive um bocado de decepção.

-Museu de Bellas Artes
Esse lindo museu sofreu horrores por causa do terremoto, mas estava aberto. Suas esculturas ainda estavam cobertas pelo plástico e eram belíssimas, mas as pinturas de suas exposições permanentes e temporárias não me surpreenderam muito. Esperava mais. Vale mesmo ir pelas esculturas e pela arquitetura do local. O são principal tem uma abóbada feita pelo Eiffel (o mesmo que criou a Torre Eiffel - uau, não me diga).



-Museu de Arte Contemporânea
Esse foi, em grande parte, destruido. Sua fachada havia sofrido algumas avarias e, apesar do aviso, contrário. Ele se encontrava fechado e com a coleção guardada em outro prédio. A única coisa que restou foi o cavalão divertido do lado de fora.




- Museu de Artes Visuais
Moderno, diferenciado, bonito e divertido. Adorei! Muito diferente. O que me impressionou também foi encontrar o "museu" (porque era apenas uma pequena sala) de arqueologia de Santiago, com muitos cocares, colares de ouro, etc usados pelos índios antigamente. Divertidíssimo!






Plaza de Armas

Nessa estação de metro você chega em frente a mais antiga praça de Santiago. É nela que se concentram os mais importantes prédio da colonização espanhola no chile. No centro tem uma fonte (com muitas crianças se banhando) talvez um pouco polêmica, por retratar um índio dando uns pega numa mulher branca. Nessa mesma praça é possível ver o mapa original de Santiago (o primeiro de todos) e uma escultura muito famosa (não sei porque e não lembro onde já havia ouvido falar, mas sei que é famosa!).




Em frente, temos diversas construções importantes:
- Catedral Metropolitana - enorme e muito muito muito bonita (e antiga).




- Cabildo - sede do antigo governo espanhol no Chile. O museu é muito fera e conta com altas curiosidades da vida dos chilenos na época do colonialismo.


- Museu Pré-Colombino - Fantástico! Inesperado. Muitas relíquias dos povos do período pré-colombiano que viveram no Chile e em outros países da América do Sul. Tem até a múmia Chinchorro (PIGMEU!!)





La Moneda

Nessa estação de metrô paramos em frente ao monumento mais famoso do chile: o palácio de La Moneda.
Projetado para ser a casa da moeda durante a colonização espanhola, acabou virando o Palácio do Governo do Chile após a independência. Criado pelo italiano Joaquín Toesca, foi destruido em 1973 por Pinochet (e as forças aéreas do EUA - diga-se de passagem). Esse momento foi considerado o marco que iniciou a ditadura militar chilena. Reconstruído quase dez anos depois, retornou a sua beleza original. Conto essa história para que saibam a força que esse edifício tem no país. É mais que o símbolo da cidade, é o espírito chileno. E eu tive prazer de passar duas vezes por lá (uma vez com a minha turma da escola do chile toda!), mas tive o desprazer que a área interna não pode mais ser visitada, pois o novo presidente não permite. Uma droga, mas tá valendo.





O impressionante foi conhecer a parte subterrânea do La Moneda. Ele é iluminado pelo fundo das fontes do palácio (que são de vidro). O espaço é enorme e eu pude ver uma exposição temporária com pintores de toda américa latina (inclusive o Brasil). E lá que meu professor explicou a história de Violeta Parra (visto que tem um museu em homenagem a ela lá embaixo). Uma cantora chilena muito popular, principalmente por sua música Gracias a La Vida (ironicamente, ela se matou... mesmo cantando uma música dessas). Essa música virou uma espécie de hino no chile.



Por fim, atrás do La Moneda fica a praça mais patriota do chile, com um quilhão de bandeira e estatuas de presidentes. Lá também fica a Intendencia do Chile e, mais a esquerda, a bolsa de valores do chile. Por fim, todos os dias pares acontece a troca de guarda chilena, ainda não tão conhecida quanto a da Inglaterra, mas muito mais animada (eu fui nas duas, acredite, a do Chile é bem mais feliz). Além de toda apresentação divertida que incluia cachorros intrometidos, a banda militar tocou Gracias a La Vida de Violetta Parra e BRASILEIRINHO para a felicidade de todos nós, turistas brasileiros. Foi fantástico.




Por último, mas não menos importante: perto de tudo isso fica o Café com Piernas. Lá tem as mais bonitas garçonetes com vestidos curtos e justíssimos! Muito bom. Infelizmente, na hora que tirei a foto (coisa que não é bem vista por lá) não havia uma garçonete escultural. Mas valeu, vai?


segunda-feira, 21 de março de 2011

Santa Lucia


Saindo da Estação Santa Lucia você dá de cara com um enorme prédio antigo e bem classico: é a Biblioteca Nacional do Chile. Um orgulho nacional. E não é a toa... A biblioteca é enorme e conserva uma grande coleção de livros, boas salas de estudo e até mesmo sala de música. Muito fera.

À direita, você encontra a Feira Internacional de Santa Lucia. Eu comprei tanta prata lá por um preço absurdo de barato que fiquei de cara. E não só isso, como comprei também blusas e chaveiros. Lá foram onde encontrei os melhores preços para essas coisas, até porque turistas não frequentam esse lugar! Fica a dica, hein?


Vocês irão perceber que na maioria dos posts terão fotos de cachorros. É porque eles estão em todos os lugares. Há as raças mais caras do Brasil abandonados pela rua (como labradores, pastores alemães, cockers, etc). E, por acaso, encontrei esse "casal" no maior chaca chaca na buchaca.

Agora, a maior atração do lugar não é a biblioteca ou a feira, mas sim o Cerro Santa Lucia. Me disseram que para fazer um primeiro passeio em Santiago eu deveria primeiro passar em algum dos cerros da cidade. E realmente, ver a cidade de cima é algo absolutamente indescritível. O morro (cerro, em espanhol) foi o campo de guerra entre os índios Mapocho e os espanhois e hoje virou um mirante. Lá é possível ter uma ampla visão da cidade, beber a melhor água da cidade (porque - cá entre nós - que água horrivel é a de lá) e aproveitar para caminhar e correr entre a natureza. Sim, tudo isso no centrão de santiago. Ainda tive a sorte de, no topo do mirante (que é um castelinho) ouvir um violinista dando uma trilha sonora para toda aquela visão. Perfeito.








Por fim, a esquerda da estação fica a Igreja de São Francisco, a mais antiga de Santiago. Estava fechada e toda rachada pelo terremoto, mas consegui entrar lá dentro. Linda, pena que tava cheia de quebrados. E um pouco mais em frente fica a famosa esquina da rua Londres com a Paris. Cheio de construções típicas dessas duas cidades, o lugar é bonito, mas um pouco artificial, sem vida.


quinta-feira, 17 de março de 2011

República de Los Niños

Fica no Centro de Santiago e é a estação mais próxima da casa de minha família chilena. Nem tão próxima, assim: 15 minutos de caminhada. Só para chegar no metrô quinze minutos é um pouco cansativo, vai?

O nome da rua que ligava o prédio onde viveria à estação se chama Av. República. Ela é lotada de universidades! Pipocavam universitários para todos os lados! O que achei mais curioso é ver que as casas que haviam na região eram extremamente góticas. Outra surpresa foi ao chegar no prédio em que iria viver: parecia um cortiço de tanto apartamento apinhado num único andar. E ele ainda seguia um sistema de ser "meio" duplex (você sobe uma escada que equivale a meio andar e desce uma escada que equivale a outro meio andar). Muy loco!


Segundo choque: há mendigos pelas ruas do Chile. Eu realmente fiquei surpreso. Ouvi tanto que o país era o mais desenvolvido da América do Sul e tudo mais que não esperei isso por lá. Inclusive, a maioria era mendigo bebado! O pisco (bebida local fortíssima) é a lei: quem não toma não é macho. Eu tomei alguns tipos, mas o mais gostoso (e um dos mais fortes) é o Pisco Sour. Mermão... coisa de loco.
Nessa rua, além das universidades, tem o museu Em Solidariedade com Salvador Allende, que por ironia, fica no mesmo local em que estava uma das principais casas de tortura do período militar chileno. O museu é bem simples, mas vale a pena conhecer, pois há quadros de Miró e até uma escultura de Yoko Ono por lá. Mas o mais interessante mesmo é a sala onde tem a gravação da voz de Allende na rádio, feita minutos antes dele morrer. Nela, ele fala sobre o chile e a capacidade que os chilenos tem de superar. O mais intenso foi perceber o medo da voz dele. O medo de alguém que sabia que estava prestes a morrer.
(para os que não sabem, ele realmente morreu)


Tem uma coisa bem legal do museu República: ele fica a uma quadra do bairro BRASIL e faz esquina com a rua Brasil. Parece besteira, mas sempre me sinto feliz em ver uma rua assim em todo país que passo. Agora, bem mais infeliz foi encontrar uma igreja fechada e toda rachada pelo terremoto. Mas é a vida que segue e algumas coisas ficam para trás.

Manuel Montt

01/01/2011

Primeiro choque: O Duty free chileno se encontrava fechado! Peraí, tem coisas que não podem parar: polícia, ambulância, bombeiro e o duty free. Como assim? Preguiçosos!
Inclusive, todos devem ficar ligado ao táxi do aeroporto. Tentaram (e conseguiram) passar a perna em mim. O esquema é o seguinte: o preço sempre é combinado. Do metro até o centro, sai em média 15 mil pesos chilenos, sem importar a quantidade de pessoas dentro do taxi. No meu caso, eu fiz isso, mas o motorista queria 15 mil por pessoa, e ficou me enrolando pois não tinha especificado que era para os dois até eu dar mais 15 mil. Não engoli isso bem até agora.

Como cheguei um dia antes do acertado com a empresa de Intercâmbio, passei o primeiro dia em um hotel chamado Chilhotel. Simples, ótimo, barato e bem próximo ao metrô Manuel Montt. Fica no bairro de Providência, que hoje está em alta. Quando passeei pelas ruas, pela manhã, acabei encontrando um chileno muito simpático que havia morado em Manaus a mais de 40 anos e nunca mais retornou. A partir daí vi o quanto os chilenos gostam dos brasileiros (ainda bem!). Sempre fui muito bem recebido e bem informado.



Por cerca do hotel, além do metro, tem o Centro de Turismo, onde é possível pegar todas as informações necessárias ára qualquer passeio no Chile (inclusive mapas, telefones, pacotes, etc). Tem também a Pullman, onde é possível comprar passagens de ônibus para diversas regiões do país (lá comprei minha passagem para Isla Negra por algo como 15 reais!). E mais duas coisas interessantes que encontrei por lá: A Igreja da Santa Providência e a galeria de livros, com muitas livrarias e muitos sebos juntos. Sai de lá com 5 livros na mão e não gastei nem 50 reais!