Esse foi um texto escrito por mim a dois anos atrás, em um momento de pura revolta. A tempos tento investir minha raiva em textos, mas apenas alguns são dignos de ser publicados. Esse eu gostei muito. Espero que gostem também.
Tarde Demais
Hoje foi uma terça como outra qualquer. Aula a manhã inteira, um almoço reforçado, uma boa caminhada com meu cachorro Ralph, uma malhada na academia e estudo mais no final da tarde. Apesar da normalidade, uma coisa me chamou atenção.
Estava eu dentro do Grande Circular, aquele ônibus que roda praticamente todo plano piloto, que pego todos os dias depois da aula, naquele solão e com um sono de derrubar um urso. Um homem idoso de pele morena, com poucos dentes, usando uma roupa simples, bem suja e desarrumada havia pedido para o motorista a permissão de entrar por trás (sem pagar a entrada) e assim poder fazer seu pedido de dinheiro ou oferecer algum objeto simples em troca de dinheiro ou passe. Com a minha boa leitura labial e curiosidade ao extremo, vi o motorista falando “Tudo bem, pode ir lá para trás.” com uma cara de nojo reprimida. O velho, em sua ingenuidade, começou a se dirigir pra trás por fora do ônibus, com um sorriso simples e desdentado, cheio de infelicidade e sofrimento. Nesse momento, o motorista dá uma arrancada no ônibus e parte, deixando o velho comendo poeira. Não se contentando com isso, ainda riu e disse “Dane-se esses velhos pidões.”.
Primeiro olhei para trás, vi aquele sorriso se desmanchando, formando uma expressão diferente, não de raiva ou ódio, mas de tristeza, de desesperança. Depois virei para frente com uma cara de indignado (o que muitos outros passageiros também fizeram) olhando para aquele motorista canalha e sem caráter. Novo, cheio de vida, um homem igual a mim, com 5 anos de diferença no máximo, agindo dessa forma com um idoso me fez refletir durante a essa viagem.
Por um momento, senti raiva de mim mesmo por nada ter feito por aquele homem de sorriso tão infeliz, mas percebi que não seria diferente. Alguma coisa deveria ter sido feita, mas antes. Aquele velho não podia estar numa situação dessas, destruindo sua honra, a qual trocaria até pelo trocado daquela balinha que uma pessoa esqueceu no bolso e não sente falta. Aquele motorista deveria ter aprendido não só a respeitar os próximos, mas sim ajudar os quando precisarem. E nós deveríamos ter aprendido a não ser passivos diante uma cena dessas.
Não vou falar que essa é a realidade brasileira. Essa é a realidade MUNDIAL. As pessoas precisam entender que nem tudo que foi aprendido antigamente deve ser jogado fora. Certos costumes e aprendizados devem ser mantidos ou até mesmo priorizados. Afinal, depois de jovem, da velhice não se escapa.