quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Cataratas de sonhos - Parte IV (Final)

Depois da usina, resolvi voltar às cataratas e fazer um passeio diferente chamado Macuco Safári. Nesse passeio, eu e mais um grupo de pessoas entramos num bote motorizado e com salva vidas, nos aproximamos das Cataratas. O guia pirado literalmente nos colocou embaixo daquele aguaceiro todo. Saia água até pelos ouvidos! Emocionante e congelante. Muito bom. Mas o que valeu mesmo foi o grupo. Tinham pessoas dos mais diversos países como Espanha, EUA, Coréia (não sei qual), Argentina e México. O mais engraçado é que ninguém sabia falar outra língua a não ser a sua própria e mesmo assim, todos se entenderam perfeitamente. Ou seja, posso ter ido viajar sozinho, mas não fiquei solitário por nenhum momento. Mas vale ressaltar, a galera do Macuco Safári brasileiro é bem mais sociável e heterogênea do que a dos Argentinos.


Como passeio final, fui ao marco das três fronteiras. Como havia dito antes, Foz fica no ponto de encontro entre Brasil, Paraguai e Argentina. Nesse local tem um mirante com um pequeno obelisco pintado de verde e amarelo. O mais legal é que desse mirante é possível ver o mirante paraguaio (pintado de vermelho e branco) e o mirante argentino (pintado de azul e branco), sendo os três separados pelo encontro dos rios Iguaçu e Paraná. Na época em que fui, estava sendo construído o que seria o mais alto mirante do Brasil, em uma torre com o topo em forma de óvni (se é que vocês me entendem).

Mas lá também tinha outra coisa que me chamou tanta atenção quanto o mirante: o mural contando a história do nascimento das cachoeiras de Iguaçu. É uma daquelas clássicas histórias indígenas de amor impossível, mas que merece ser contada. Dizia-se que uma serpente gigante (espécie de deus) chamada Mboi vivia no fundo do rio Iguaçu e, para que a mesma ficasse contente, a tribo Caiangue lhes ofereciam as mulheres mais belas da aldeia. No meio de toda essa história, a índia mais linda da aldeia, chamada Naipi, que seria a próxima oferenda a Mboi, foge com o seu amado Tarobá de canoa pelo rio. A serpente, enfurecida, criou uma fenda no rio de onde a água começou a cair, levando a canoa para o fundo do rio. Assim, Naibi se transformou na maior rocha que fica no meio da cascata e Taborá se transformou em uma árvore que fica no topo da cachoeira. Assim, os dois poderiam se olhar sempre, mas jamais poderia se tocar novamente e Mboi, ainda apaixonado pela índia se mantém no fundo do rio, a vigiando. Essa história não tem bases verídicas, mas demonstra bem o espírito do local. Emocionei.
Então assim termina a minha viagem, que no mínimo, se mostrou extasiante. As cachoeiras são imperdíveis, mas fazer todos esses passeios modificou a minha forma de ver o mundo para sempre. A mistura de povos é impressionante. As histórias locais são vivas e bem preservadas. E, até hoje, acordo ouvindo o poderoso som das cachoeiras caindo incansavelmente sobre Naipi e suas rochas vizinhas.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Cataratas de sonhos - Parte III

Depois de ter visto aquilo tudo, tomei uma decisão. Iria fazer TODOS os passeios possíveis naquele lugar. Já vi que não aconteceria mais uma ida ao cassino e que mesmo assim voltaria com os bolsos pesados (de dívidas, é óbvio). Então assim, parti para o Parque Nacional Iguazú, no “lado argentino” das Cataratas.

Estava com medo de achar repetitivo, mas não. Eu vi as Cachoeiras por outro lado, ou melhor, por CIMA delas. Eu não conseguia ver o fundo das cataratas em meio às névoas eternas causadas pelo vapor d’água, mas conseguia sentir toda intensidade daquele rio descendo por água abaixo (literalmente).

As passarelas argentinas ainda possuíam histórias. Além de serem (beeeeem) mais compridas que as brasileiras, muitas delas já foram devastadas pelas enchentes do passado, sendo que algumas já chegaram a provocar mortes! Mucho Loco!

Aproveitando que já tinha conhecido aquelas águas, resolvi conhecer a origem delas: a Usina Binacional Itaipu. Eu já sabia que a construção daquela que já foi a maior usina hidrelétrica do mundo havia modificado completamente o curso das águas da região. Inclusive, há certo saudosismo com relação às Sete Quedas, que desapareceram com a tal usina. Não tem como dizer que a mudança foi horrível para a região, mas não dá para esquecer os estragos feitos na natureza local.

Apesar de tudo, a Itaipu tem um programa bastante inovador. Para começar, a usina é parte de um contrato que a divide entre o Brasil e o Paraguai. Tudo lá é dividido mesmo, inclusive os trabalhadores (50% são brasileiros e 50% são paraguaios), mas o mais curioso é que a região em volta da usina não pertence a NENHUM país. É como se fosse uma zona neutra e internacional. Outra curiosidade é que a cada trabalhador que é contratado lá, deve plantar uma árvore, com direito a plaquinha com nome e tudo mais. Muito show.

Chegando naquele monumento de concreto, podia escolher entre dois tipos de visita, a turística e a técnica. Eu iria fazer a técnica, mas soube que era extremamente profissional (e eu realmente passo longe da engenharia) e demorado, então fiquei com a turística, e não me arrependi. Passamos por cima, passamos por dentro e tudo mais. Tudo muito grande e incrivelmente calmo.

Aquelas águas paradas chegam a ser assustadoras. Mas o interessante da usina é o Canal da Piracema. É por lá que passam todas as espécies de animais marinhos, mostrando que a usina estava sim, se preocupando com a natureza local. Muito bom. O passeio valeu demais!

domingo, 8 de agosto de 2010

Cataratas de sonhos - Parte II

Depois, para fazer um passeio completo e especializado, contrato uma empresa pra me carregar e me explicar tudo. Como era fora de época de turismo, ficou uma Combi inteira a minha disposição e um guia particular. Bom demais. Primeiro passei no famoso parque de aves e realmente foi magnífico. O diferencial é que você entra na jaula onde se encontram. E elas são espaçosas e bastante arborizadas. O espetáculo foi exótico. Flamingos rosados se paquerando em espelhos (falava-se que os espelhos serviam para multiplicá-los e assim lhes dar mais segurança). Macucos andavam por todos os lados. Eles são donos dos ovos mais lindos do mundo. Tais ovos que eu NÃO vi em nenhum lugar, mas dizem que eles são de um roxo brilhante. Devem ser, né? Tucanos malditos comendo pedaços da minha bermuda. Araras lindas com aquelas garras que deixaram marcas eternas no meu braço. Cobras esguias e linguarudas rodopiando meu corpo. Foi realmente divertido. E um pouco assustador.
 
Depois de tantos animais, partimos para o grande objetivo da viagem, ver as famosas e ditas como as mais lindas cataratas do mundo: as Cataratas do Iguaçu. Chegando ao Parque Nacional do Iguaçu, percebi algo peculiar. O hotel resort das Cataratas fica lá dentro. Como assim? Uma hospedagem particular num território federal e Patrimônio Natural da UNESCO? Bem ou mal, o prédio ao menos era bonito e integrava bem com o local.
Vamos adiante. Começo a descer as longas passarelas e escadas no meio do mato e nada de água. Só o barulho bem ao fundo. Até que um quati começa a pular de um lado pro outro, em volta de mim. Se eu achava que não teria que lidar com mais nenhum animal, me enganei profundamente. Aquele bichano bonitinho se mostrou uma verdadeira peste enquanto tentava saquear minha mochila. E claro, o guia só rindo e tirando fotos. O que mais ele poderia fazer?
Mas graças ao pequeno mascote do parque, tive uma das imagens mais bonitas que já havia tido até o momento. Ao tentar puxar minha mochila pro chão, me agachei para me esquivar dele e assim pude ver pela primeira vez as cataratas, numa posição que nunca tinha visto em fotos. Era como se eu tivesse acabado de encontrar o Eldorado! Parecia intocável pelo homem, lindo e perfeito como deveria ser.

Chegando ao final das passarelas, estava completamente ensopado pelos respingos da cachoeira, surdo pelo som das forças das águas, tremendo pelo frio das águas e com os olhos brilhando diante tantos arco-íris que já tinha visto. Nem a Parada Gay tinha tantas cores juntas e misturadas.
E a quantidade de cachoeiras? É como se a água do mundo inteiro estivesse desembocando naquele lugar! Aquele barulho jamais sairá da minha memória. Nunca pensei que seria tão magnífico.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Cataratas de sonhos - Parte I

Foz do Iguaçu. A beleza das cataratas e a história do local são tão subestimadas que torna a viagem de qualquer um, no mínimo, inesperada. E essa foi a primeira vez que viajei completamente sozinho. Lá me hospedaria na casa de familiares que não conhecem nem meus pais, mas que estavam dispostos a conhecer um carioca da família, tão incomum entre nós. Lá encontrei os mais diversos tipos de pessoas, ainda mais pela cidade estar no ponto de encontro entre três países (Brasil, Paraguai e Argentina), o que deixou tudo mais divertido e exótico.

Minhas surpresas já começaram no aeroporto. Mesmo pequeno e localizado em uma cidade com menos de 400 mil habitantes, é um dos aeroportos mais movimentados do Brasil com vôos que vêm de todos os continentes do mundo. Mas também a sua posição geográfica não deixa a desejar: a cidade fica exatamente no centro da América do Sul! E claro, como não podia deixar de ser, ao sair do avião e entrar no aeroporto, o que tinha lá esperando pelos passageiros? Uma mulher fantasiada e seminua sambando ao som de um moreno rústico com jeitão de índio urbano. Cena cômica para os brasileiros, linda para os estrangeiros. Faz parte.

Meio paradona, a cidade conquista mais por sua beleza natural do que urbana. Apesar das ruas limpas e largas, não é de ter muita agitação (muito menos noturna). Na verdade, a cidade que faz sucesso mesmo é a Ciudad Del Este, no Paraguai. A travessia de um país para o outro acontece em uma ponte que pode ser usada tanto para carros quanto para pedestres. Apesar de curta, foi lá que vi as cenas mais engraçadas da viagem. Primeiro, ao olhar pelo Rio abaixo, é possível perceber barquinhos improvisados e pessoas com mochilões tentando atravessar o rio. Até há algum movimento da polícia, mas (como sempre) não é o suficiente para conter a galera. Na própria ponte é possível perceber mulheres levando bolsas gigantescas na cabeça (como se fossem baianas, só que provavelmente o peso da carga era BEM maior) e homens levando galinhas dentro das mochilas, as quais você só vê as cabeças e seus olhares espantados diante de toda aquela correria. Passado a ponte, o que você encontra é uma feira gigantesca, só que ao invés de barracas e camelódromos, são prédios inteiros usados para isso. Ao lado de um MP4 na marca “Sonya” e de um desodorante muito suspeito chamado “Roxana” você vê candelabros clássicos e pianos de cauda. É um barato (nem sempre, financeiramente falando). Saindo a noite, depois da parada obrigatória no Duty Free externo e gigantesco (o único que já vi sem ter um aeroporto por perto) vou ao único local digno de lotar minha noite inteira: o cassino Iguazú. Adoro toda aquela ostentação e a capacidade de entrar, ganhar dinheiro e sair com menos do que entrou. Isso sem contar aquela falta de coragem de jogar (pra perder, obviamente) um poker com aquelas pessoas extremamente sérias e assustadoras (e velhas, diga se de passagem).